18 março, 2019

"AQUILO QUE AMOR DIZ" de Regina Guimarães


São longas frases
em língua de escuta
onde o vento da boca
nunca se aventura.

Dão guarida ao que escapou
às leis da criação sempre segunda:
o sexo implícito
a nudez interior...

São ramos do verbo oculto
sabem a flor dentro de fruto
sabem a fumo de seiva
misturada com a bruma do levante.

São véu vestindo esse céu
que a luz cortou à faca
não fosse cada palavra
ser tão-só mais uma parra.



em "caderno dos atalhos e dos becos"
(ed. Hélastre, 2018)

08 fevereiro, 2017

"alguma coisa negra"

"Faço estas frases a partir de destroços de poemas. a partir
de cores que se tornaram negligenciáveis. a partir de dias
turvos.

Em todas as recordações as cores desbotam. ali estás clara
ou sombria, a minha linguagem não consegue dizer mais
do que isto.

Interiormente, deixas-me confinado às tuas fotografias.

As tuas cores escapam-me uma a uma. como as tuas frases.

Sestas sépia.

Um pedaço de papel branco mantém a sua claridade de
céu onde o branco ganhou um tom de cinza, tendo desli-
zado no sal. esse céu mais luminoso do que o papel.

Num certo sentido, porém, ele tinha sido mais sombrio.

O mesmo com o teu corpo. retirando toda a luz aos meus
olhares.

Mas seria correcto dizer que a minha visão está em falta?"


em "alguma coisa negra" de Jacques Roubaud

12 maio, 2016

onze anos deste moribundo espaço (festejando também o regresso de um amigo à poesia)

“hoje vieste em silêncio
desarrumar as horas
no corpo sumido de um aguaceiro.
os teus longos cabelos adormeceram
na fria pulseira do relógio.
eram seis da manhã.
quando é mais nítida
a voz rouca do farol."


em “Para Que Lado Repousa a Infância” de Alberto Serra 
(ed. Insubmisso Rumor, Porto, 2016)

03 julho, 2015

poema quase epitáfio

de Luiza Neto Jorge 

Violentamente só
desfeito em louco
— nem um gato lunar
se arranha um pouco

Morreram-te na família
irmãos mais velhos
Restam retratos de vidro
e espelhos

Entre as fêmeas bendita
não te quis
As outras mataste
(nem há sangue que te baste)

O chão dos teus país
deu-te água e uma raiz
muitas pedras nas prisões

— Senhor demónio dos sós
quando ele morrer
onde o pões?

02 julho, 2015

Um veleiro como repentino
verso no horizonte.
As crianças minhas brincam
no areal — serão sal ou sol
de mim?


Porto, 2 julho 2015

09 junho, 2015

A linguagem metafórica é fodida.

13 maio, 2015

um ano mais

nada para comemorar.
demasiado ocupado com o globo.

16 fevereiro, 2015

já que é carnaval tomem lá Adília Lopes

O amor
é foda
o amor
é boda
(a senhora sabe
da poda?)
o amor
está sempre
fora
de moda
é preciso amar
atrever-se a amar
andar com este
e com este

31 dezembro, 2014

okibulir

Eu quero sono eterno
Bem na hora de dormir.
Faz frio, aqui é inverno
Não tem mais o que bulir.



de Paulo Luiz Barata 
em "Escola do Trovão" (ed. Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2011)

26 novembro, 2014

radiografia

 photo radiografiaIMG_1366_web650_zps1d72275f.jpg Porto, Novembro 2014

pano para todas as narrativas

Narrativas. Recidivas.
Narrativas para todas as cores.
Activos narradores. Marradores.
Vivas dores.

17 setembro, 2014

O nariz um ninho
de lesmas ínsones.
Noites brancas,
hiperrealistas.



 Setembro, 2014

31 agosto, 2014

como um bicho no chão

 photo fotografia_aacutervore-bicho_vilarinha_web650_zps81b7758b.jpg © Porto, Junho 2014

31 julho, 2014

díptico de olissippo

 photo dipticodeolissippo02_web650_zpsee3542fc.jpg
© díptico de olissipo #02, 2014

22 junho, 2014

a música de são paulo

21 junho, 2014

I Am A Chancho

16 maio, 2014

un si lent silence

Mudas Mudanças!
Mas que louca e maravilhosa aventura cinematográfica!
Saguenail é muito provavelmente o cineasta que mais e melhor filmou o Porto.
Um estrangeiro genial que se apaixonou por esta estranha (finis)terra.
As histórias à volta deste filme dariam um livro. Ou um outro filme.
Estreou em 1980 no festival da Figueira da Foz numa sessão às dez horas da manhã.
Estavam três pessoas na sala.
Um filme infeliz e injustamente pouco visto.
Caído em tão longo silêncio.
Deixo a sinopse, para aguçar-vos a curiosidade.

"Um jovem paralítico, movido pela curiosidade e pelo sentido da irrisão,
percorre a cidade do Porto de lés a lés. Durante o seu errático passeio,
vai-se cruzando com cenas desconcertantes que são outros tantos
fragmentos de contos populares portugueses. Interpelado, não responde
aos convites, não ousa sair da situação de voyeur na qual se refugia,
excluindo-se assim do fluir das ficções. Alegoria de uma revolução
recém-desaguada em águas de bacalhau, "Mudas Mudanças" levanta
uma questão: quando tudo é possível, a inércia de quem se mantém no
papel de espectador leva a que nada verdadeiramente mude."
   photo pixlr_sem_quartel_web650_zps22c1e4c3.jpg
© Círculo Católico de Operários do Porto, 15/maio/2014

14 maio, 2014

Ano nono de caminhos




Singulares e plurais.
Ora menos ora mais.
Festa de coisas boas.
Críticas e também loas.
Aparições e aparecimentos.
Criações ou nadas aos ventos.
Citações e pensamentos.
Excitações e aborrecimentos.
Paixões e arrebatamentos.
Anotações e desprendimentos.
Visões e movimentos.
Imagens e palavras das margens.
Acordes e raccords.
Fotos e metáforas.
Cios e cicios.
Fios e vazios.
Opaca nudez.
Ou luz e aridez.
Nove anos tamanhos.
Um de cada vez,
foi muito breve aqui chegar.
Crescendo devagar.

 Saravá, a quem vem por cá!

   photo pixlr_sombras_alfazema_web650_zps5d0c5ec3.jpg © Porto, 2005

06 maio, 2014

10:13, concomitâncias


que som haverá na passagem do tempo? 
que sons sentimos quando lemos imagens? 
que rumores? que rumos? que embebidos silêncios?



 photo concomitacircnciadigital_zps7f198d38.jpg
[imagens roubadas da net esta mesma manhã]


29 março, 2014

a vida é bela

21 março, 2014

outro dia

de Al Berto



cai na manhã do coração desolado
a toutinegra que longe daqui cantava e
nesse instante
a tristeza do rosto subiu aos lábios
para queimar a morte próxima do corpo e
da terra


mas se a noite vier
cheia de luzes ilegíveis de véus
de relógios parados — ergue as asas
fere o ar que te sufoca e não te mexas
para que eu fique a ver-te estilhaçar
aquilo que penso e já não escrevo — aquilo
que perdeu o nome e se bebe como cicuta
junto ao precipício e à beleza do teu corpo


depois
deixarei o dia avançar com o barco
que levanta voo e traz as más notícias dos jornais
e o cheiro espesso das coisas esquecidas — os óculos
para ver o mar que já não vejo e um dedo incendiado
esboçando na poeira uma janela de ouro
e de vento

03 janeiro, 2014

para Paulo Luiz Barata
(22.05.1951-30.12.2013)

Das tuas cinzas
ascenderão versos inauditos
rigorosas equações poéticas


Cumprirão para sempre
o vazio destes dias tristes
chuvosos
um céu que não sabia ainda
que já te chorava


Porto, 3 de janeiro 2014

01 janeiro, 2014

até sempre, amigo

"O que nos espera do outro lado? Uma fada sorridente, uma
bruxinha anã, um lugar de não me toques?

Sei que a hora vai chegar,
impulso no meu salto de Vara.
Do outro lado vou arribar,
cumprimentar Santa Bernadete.

Eu morava lá,
ela sabia de cá,
que Santa Sorridente,
lá e cá, cá e Lá."



Paulo Luiz Barata
em "A Primeira Pessoa", ed. Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2012

22 dezembro, 2013

sem fuga

 photo pixlrCenadeumcrime_web650_zpsa426e9f2.jpg Porto, 2013

09 novembro, 2013

história de fogo

23 setembro, 2013

uma voz a voar agora para mais alto.

"Uma voz" de António Ramos Rosa



Quero pertencer à abóbada escura como um amante inerme
e ser o alento do silêncio sobre os os ombros das nuvens.
Quero aderir à sombra das palavras da folhagem
e comprender a terra na selvagem seda do desejo.

19 agosto, 2013

o poeta do castelo

25 junho, 2013

"não há feira, mas há escritores"



Não gosta das suas margens o Rio
A cidade assim sem eira nem Feira
Mas da mais bela guerreira maneira
Os escritores se uniram em desafio

E os livros brilharam na livre praça
Em vésperas do querido São João
Contra certos profetas da desgraça
Escritores do lado justo do coração!

 photo pixlr_feiradolivro_alternativa_web650_zps2314890e.jpg
Porto, 22 junho 2013

15 junho, 2013

de António Ramos Rosa





"O poema deve
aparecer
como um objecto supérfluo
e surpreendente"

22 maio, 2013

"Serei um xamã ou um chamuço? Agora só me restam
 memórias, como no último dia.


 Adquirir a consciência do hiato de sentido é marejar a
 morte sem sinopse."




 em "A primeira pessoa: Um livro com princípio, meio e fim"
(Ibis Libris, 2012)

de Paulo Luiz Barata

13 maio, 2013

blogue desnorteado (após oito anos ao leme)

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© Porto, 2013